4.25.2012

Portas da mente

Miguel Portas foi, durante o tempo em que vivi sob a ideia da utopia esquerdista, um herói. Ouvia-o como a um sábio e comecei a aprender com ele a nefasta rigidez do PC, partido de que saíra por imposição moral e força de liberdade individual. As causas que apresentava eram justas e despertavam-me a vontade de conhecer mais sobre elas, de ler, de ouvir e conhecer. Para um rapaz de 18 anos, Miguel era a certeza de que poderíamos acreditar na utopia (sem ser chatos como o Louçã ou o PC)e adultos, vivendo sem cair no emburguesamento das ideias. A alegria quando o vi entrar na Assembleia da República foi igual à certeza de que o país iria entrar nos eixos e preocupar-se com as coisas realmente importantes. Entretanto seguia um documentário, por ele conduzido, sobre as incursões portuguesas no Oriente, na altura dos Descobrimentos. Um belíssimo programa que por mostrar também o menos positivo dessa demanda não teve a projecção de outros, às vezes mais fantasiosos. Mais uma vez mostrava como não há uma versão das coisas, como não devemos sujeitar-nos a uma ideia, a um caminho imposto. A verdade é que a lição de desprendimento e liberdade individual foi também uma contribuição para me ir afastando de uma ideia que me foi parecendo cada vez mais impraticável e até indesejável. Vi a última entrevista de Miguel na Sic. Continuei sempre a ouvi-lo com respeito e sem a preocupação de interiormente contrapor a argumentação. Desapareceu um homem que contribuía activamente para a minha liberdade individual e humildade política. Faltam muitos gajos como ele, à esquerda.

6 comentários:

psilipe disse...

Bom texto, Pedro. Abraços.

PedromcdPereira disse...

Obrigado, pá. Abraço

Thor Mentor disse...

É pá,ontem escrevi-te aqui um texto todo bonito mas não sei pq foi recusado!? De qq maneira e resumindo dizia que concordo contigo no essencial menos no que falas de ser impraticável e indesejável. Lembro-te que todos os direitos dos trabalhadores conquistados por esse mundo fora tem por base aquilo que as politicas de esquerda defendem. Se continuarmos por este caminho em breve estaremos como estavam os trabalhadores no inicio da revolução industrial.

Um abraço

PedromcdPereira disse...

Caro Mota, não sei o que se terá passado com o outro texto... Quanto ao impraticável, apesar de o individualismo estar a passar um mau bocado, acredito que o indivíduo não deve subjugar-se a ideias colectivas. Ainda assim, aceito discutir exequibilidades. Sempre a favor dos direitos dos trabalhadores, sempre contra as tiranias e pensamento único.

PedromcdPereira disse...

E um abraço para ti, Mota! Já não te vejo há anos. Vê lá se actualizas mais o teu blog.

Thor Mentor disse...

A ideia de colectivo e de que todos têm de ser iguais só se pode considerar em termos de igualdades de oportunidades, de direitos e deveres do individuo perante um colectivo a que tanto gostamos de chamar sociedade[aquela que culpabilizamos tanto ou mais que os governos]. A ideia de colectivo só poderá subsistir persistindo a ideia de individuo. Devemos assim e partindo destes pressupostos desprezar o individuo colectivo (sejam estes grupos economicos/financeiros, entidades religiosas, estados autocráticos/totalitarios, clubes de futebol, etc) acima dum colectivo de indivíduos.

É absolutamente ridículo querer que todos se vistam da mesma maneira, ou que todos tenham que ter as mesmas ideias ou crenças.

Podia divagar mais um bocado sobre isto mas creio que estamos dentro da mesma linha de pensamento.

Tens razão, tenho que actualizar mais o meu blog e tenho que ver se apareço mais vezes no Sabugal de preferência quando o pessoal lá estiver.

Abraço