4.30.2009

Intelecto

Penso que foi no good old Fisga que falei pela primeira vez da minha estupefacção perante os intelectuais. Volto agora ao assunto por questão bem prosaica. O problema da intelectualização das coisas é que se tira a piada a uma vivência que se quer proporcional à nossa hilariante existência. Grassam como ervas daninhas (grass - erva. ãH? Até está bem apanhada)filósofos e técnicos acreditados por tudo quanto é sítio. E a Terra tem muitos sítios! A forma séria como certas amibas relatam o inferior mundo que as rodeia, acrescenta piada ao meu mundo, é certo, mas há coisas que me estão a ser roubadas.

As telenovelas, por exemplo, eram despretensiosas e tinham como objectivo entreter. Para isso adaptavam obras que já tinham provado ser eficazes a entreter, ou então desenhavam personagens fáceis com quem se empatizava ao primeiro tremer de pulseiras de ouro, com uma punchline do tipo: " estou certo ou estou errado?!". Agora a telenovela é habitada por tipas boas sem o fogo da Tieta, mas com o atrevimento da Cicciolina. Claro que no meio do avanço sexualmente quase explícito, aparece um diálogo vomitável de moralista, acerca do sexo seguro (Bento XVI, representa aí man).

Agora as telenovelas querem também educar. Detrás (sem a preposição que isto é assunto sério) daqueles cenários vivem chatos que estão sempre à espera de verter a sua sabedoria para educar o povo que não sabe. Tudo com um desplante confrangedor de tão artificial . "Você sabi qui não podji estar no sóu sem protectô solá, num sabi?". Isto para falar de telenovelas brasileiras, outras não conheço que não tenho tempo. No fundo, para tristeza minha, já há alguns anos que não vejo novelas. Não porque ache que sejam pouco desafiadoras do meu intelecto, mas porque não estou para me cansar com desafios político-existenciais de produtores de novelas.

4.29.2009

É preciso ter cuidado

O senhor futuro deputado europeu Vital Moreira está preocupado com a lei "libertária" da liberdade de expressão. Depois de Ilda Figueiredo, Vital vinha assumindo posição de destaque no caixote do lixo de candidatos por mim excluídos para possível votação. Cá está a confirmação. Esquerda sofre. Miguel, aguentas-te?

Senhor Vital, eu estou preocupado com a cara de parvo que V. Exa. mostra nos debates e entrevistas. Isso é mesmo assim, ou a sua assessora de imagem é do PSD?

4.28.2009

Hoje parece que está outra vez mais frio

A consciência de superioridade moral é mais que ego inchado? Talvez sim, mas os argumentos de quem vê à sua volta a imoralidade não podem ser só apontá-la. Isso é demasiado fácil e um ciclo vicioso que imputa aos moralistas a responsabilidade de investir na sociedade para a mudar. É correcto ver e saber o que está mal e apenas criticar? Não, é imoral...

4.26.2009

Coisas do arco da velha

Mas porque carga de água é que o pessoal se ri quando o Duke Ellington diz que o intro da Take the A' Train vai ser feita pelo piano player?

4.22.2009

Processo Kafkiano

Outra expressão que o pessoal devia deixar de dizer. Entre outras razões, sr. Primeiro Ministro, porque a última figura pública a utilizá-la mil vezes, foi o Carlos Cruz.

Proponho: Enredaram-me num caso Proustiano (em Portugal, muito mais adequado)
Enredaram-me num caso Ana Maria Magalhães e Isabel Alçadiano (óbvias as vantagens desta expressão)

4.19.2009

Muito tempo depois

A derrota do Benfica contra a Académica tem uma coisa positiva. Ainda por cima o clima de desrespeito por parte dos gajos de negro para com o Glorioso potenciou essa coisa positiva. O que é essa coisa? Farto-me de conhecer pessoal que vai estudar para a cidade da queima (há mais, eu sei, mas pouco mais) e vem de lá adepto fervoroso da Académica. Muitos são benfiquistas. "Tenho o coração dividido", dizem com o desplante de quem nunca respeitou o clube. "O meu coração só tem uma cor" dizia o outro. Assim, quando um benfica do mercado me disser que tem o coração dividido, posso sempre relembrar esta época.

4.16.2009

O que se passa é que o mundo é lixado

Já aqui escrevi sobre a forma como algumas pessoas mudam de assunto durante uma discussão porque não lhes agrada o curso da argumentação do interlocutor. Incrível como isso se passa a torto e a direito! Quando aqueles que fazem acusações e se melindram trasformando-se em mártires, sempre que alguém os mete no molho que dizem nunca ter provado, é uma das cenas mais hilariantes e tristes de assistir. Mais uma vez, estes mártires sozinhos contra o mundo esquecem-se que as outras pessoas têm um cérebro, quiçá mais clarificado e tudo.

4.13.2009

Parte do que escrevi para este Domingo no Diário Insular

A ambivalência da consciência colectiva do povo português é das coisas mais divertidas que se podem observar. Enquanto povo avaliador somos para lá de benévolos com algumas coisas e irracionalmente negativos com outras. Quantas vezes não tentámos convencer alguém de que o vinho, azeite ou cerveja produzidos em Portugal são os melhores do mundo?! Atente-se que só pelo facto de entre os três produtos mais referidos fazerem parte duas bebidas alcoólicas, temos um indicador que não podemos desprezar. É provável que parte das pessoas que fazem este esforço de sobrevalorização esteja sob o efeito de uma das melhores bebedeiras do mundo. Mas a sobrevalorização que mais me diverte, porque é transversal a todos os estratos sociais, meios políticos e de comunicação social (tal qual a incidência do HIV) é o da Selecção Nacional. Não há bando de coxos mais valorizados no mundo. Estou em crer que se Charles Dickens saísse da tumba e decidisse passear por Portugal, ficaria satisfeito pela forma como os coxos e aleijados outrora ostracizados e portadores de grande sofrimento, que retratou nos seus contos da época vitoriana, são agora acarinhados e elevados a heróis enquanto chutam uma bola ao acaso dentro de um rectângulo de relva.

Todos os Domingos

4.02.2009

O autismo

A perturbação autista é uma condição que causa sofrimento ao indivíduo que dela padece e aos que estão ao seu redor. Com acompanhamento adequado valorizado por uma família cuidadora, o autismo não tem de ser uma tragédia. A questão do autismo é conhecida por grande parte das pessoas. Por isso não percebo a insistência de os políticos utilizarem essa expressão de forma claramente pejorativa em relação aos seus pares. Que eu me lembre, segundo alguns iluminados, já Cavaco primeiro-ministro tinha uma postura autista em relação aos outros partido e à sociedade. Agora é o Sócrates... Pelo meio, metade dos deputados da Assembleia da República também parece que são autistas.

Eu percebo que o vocabulário dos políticos é, em geral, limitado. De forma que lhes sobram poucas palavras injuriosas que possam utilizar para ofender os colegas. Eu, que estou sempre pronto a ajudar, proponho algumas expressões que decerto aligeirarão (wow!) as costas dos autistas. Cá vão:

" O senhor deputado tem uma visão sidosa da questão em debate"

"O senhor deputado é canceroso quando analisa este assunto, senhor deputaaado"

" O senhor deputado está a faltar à verdade porque tem mantido uma postura tuberculosa nesta matéria"