12.24.2011

Mal entendido espelho meu

À espera de ser aviado pela senhora da loja onde comprava um item natalício, entram duas senhoras que por não pretenderem item complexo, são aviadas primeiro do que eu. Enquanto espero pelo embrulho e vagueio pela minúscula loja, encontro o olhar de uma das senhoras compradoras, fixo em mim. Estupefacção e dúvida entendi eu naquele olhar. Um sorriso medroso a acabar o ramalhete de sinais não verbais. " Será que tenho um macaco no nariz? Ou a senhora não resiste ao encanto da minha barba pai natal?" À saída e aos risinhos, ouve-se enfim a solução ao enigma: "aquele senhor ficou lixado".

Ora cá está. A senhora lutou por encontrar em mim um sentimento rancoroso por se ter despachado primeiro. Mesmo que eu estivesse só a pensar numa maneira de coçar o nariz e mostrar a aliança ao mesmo tempo (o que seria fácil). Um exemplo cabal de que inculcamos nos outros as nossas formas de ver o mundo. Às vezes, sem os outros saberem.

12.21.2011

As botas

Lembro-me das primeiras Doc Martens que comprei. Confortáveis como eram, nunca mais as larguei. Agora, com umas feitas na China, o conforto mantém-se apesar das más línguas. Mas fico contente de saber que voltaram a ser fabricadas no UK. A tradição volta a ser o que era.
Um desconforto: ainda me chocalha o cérebro quando associam as minhas botas a calçado militar e não ao operariado.

12.02.2011

O sentido inverso

Não é por a vida não ter sentido que devemos sentar-nos, chorar e lamentar o inenarrável caos eterno, para nós fugaz caos imperceptível. A vida sem sentido responsabiliza-nos a construir momentos e emoções que contradigam o inferno pseudo-existencialista. Não é por ser absurda que deixa de ter valor. Sem um sentido, desafiemo-nos a inventar milhares de razões preciosas.