4.19.2012

Psicopata assassino

Quando terminou a série 5 do Dexter, não consegui tirar o travo a azedo do cérebro. Não que a quantidade de cadáveres deixada por Dexter Morgan me atormentasse o sistema, mas porque a podridão anunciava o fim. Não havia nada a fazer por este conceito de psicopata mais ou menos justiceiro. As pistas à CSI tinham tomado conta de alguns episódios (uns pneus que só se vendem em duas lojas, ou a fibra têxtil de que um revendedor tem o exclusivo confirmavam-nos que Miami deve ser uma cidadezita do tamanho da vila de S. Sebastião) e as piadas, essenciais para a captação da ironia (ou talvez não) do conceito de psicopata justiceiro, tornaram-se uma entrada perigosa para a quase ridicularização de uma série que apesar dos providenciais momentos cómicos, se queria séria - quem não se lembra de dada vítima a fugir por entre contentores envolto no plástico de cozinha? Teve piada... Demasiada.

Mas havia mais. A mente humana tem sempre recantos por aliciar e os gajos do Dexter acertaram-me bem na sexta série. O misticismo religioso e a discussão da fé, do ponto de vista de quem não tem outra visão da vida se não o aqui e agora brutalmente (literal) pragmático. E então voltou o interesse. Parece até que alguém deu conta do caminho sinuoso das pistas à CSI e fez-se questão de, em algumas das investigações, aventar números mais verosímeis para uma cidade como Miami: milhares de pessoas a investigar, trabalho burocrático, explicar probabilidades para exclusão de suspeitos... Sentimo-nos bem quando percebemos o cuidado de quem nos entretém, com os pormenores. Enquanto no cinema a preocupação com os pormenores se tem resumido a pixéis, na televisão preocupa o enredo e ainda bem. Até uma terapeuta excepcionalmente credível ajuda à festa. Claro que seria bom demais que esta credibilidade se mantivesse sem mácula. Mas esta série não escapa sem momentos forçados. Aliás o enredo é atingido com alguma violência num ponto em que a psicóloga de serviço é crucial... Mas vá, quem vê televisão não quer vida real não é?

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