1.29.2005

Pulítica=Pota

Em pequeno, na altura em que aprendia a ler, vi várias vezes a palavra "pota" escrita nas paredes . Eu não percebia muito bem o que seria pota, mas tempos houve em que pensei que fosse apenas um nome muito vulgar do sexo feminino. Vieram os ditados e comecei a perceber que havia uns quantos colegas que simplesmente não acertavam com as letras correctas nas respectivas palavras. Assim, o puzzle que eles faziam durante o ditado não fazia grande sentido. Isto levou-me a perceber a confusão que muitos tinham com o som das letras nas diferentes situações. Pois se já era difícil construir um puzzle a duas dimensões, mais a dimensão mental, acrescentar-lhe a dimensão do som é arrasar os nervos a certos desgraçados. Com a fonética e os erros que esta proporciona descobri enfim que "pota" não era mais que "puta" e que os garotos que escreviam a palavra a torto e a direito nas paredes não eram mais que putos revolucionários que pintavam nas paredes o palavrão mas sem o escrever Uns autênticos artistas. Porque qualquer pessoa olha para aquela palavra e sabe o que no fundo lá está. Mas se o puto fosse apanhado pelo sr. polícia a escrever o que diria? "(acrescentando um "S" no fim)Estou a escrever Portas sr. guarda, é o meu político favorito! OOOps! Esqueci-me do "R". Não diga ao meu pai que ele é comunista!"
Um puto mais inteligente e activamente mais agressivo não resistiria, no entanto, a escrever a palavra correctamente. Obviamente que chocaria mais, mas sem a possibilidade de um subterfúgio tão airoso com o outro. Assim se abordado pela polícia durante o acto transgressivo, o puto faria arte nessa altura e não com o facto de escrever a palavra que desejava. Indo mais além, escrever a palavra "puta" não seria mais que um estímulo para no caso de ser apanhado em flagrante( outro estímulo) pensar na frase que realmente quereria escrever.
Polícia- Com que então a escrever asneiras na parede hein?
Puto do Carais- Quem eu?!
-Sim, o menino está a riscar a parede, e ainda por cima com palavrões!
-O que eu estou simplesmente a escrever é: PUTATIVA CREDIBILIDADE DA CLASSE POLÍTICA DÁ-ME VONTADE DE RIR! AH!

1.27.2005

Deplorável

A forma como alguns seres humanos se escondem sob uma capa rude, estando no entanto sempre prontos a aceitar tudo de todos. A conversa fiada fica para os amigos, as atitudes, no bolso. Esta necessidade de agradar a estranhos deve ser também patológica (personalidades borderline). Mas a existência de tal disfuncionalidade social não deveria sempre afectar as amizades mais próximas, certo?

1.20.2005

Andares

Depois de ter passado a linha-férrea o Sr. Mil continuou o caminho pelo cais, sabendo que a qualquer altura poderia ser interpelado pelo facto de não levar vestido o sobretudo. Além disso ele temia que reconhecessem a sua maneira de caminhar, o que lhe traria graves problemas: pela sua forma de caminhar já havia sido apanhado em situações ilegais. Furtivamente entrou num armazém vazio e sentou-se no centro. Precisamente. Havia vinte e três noites que não dormia e no entanto continuara activo, sem sono. Hoje apetecia-lhe dormir e o chão poeirento do barracão servia perfeitamente, não obstante as alegres ratazanas e algumas baratas que procuravam em vão algo para se saciarem.
Sonhava com tempestades e cavalos alados resgatando pessoas, correntes intermináveis de água misturada com vinho que seres impressionantes bebiam emitindo sons roufenhos, moças que se maravilhavam com os cavalos, homens que se maravilhavam com as moças e com os cavalos, quando foi interrompido. O segurança apontava-lhe a lanterna à cara:
- Que se passa?
- Não sabe que não pode estar aqui deitado?
- Porquê, incomodo as ratazanas?
- Incomoda as pessoas da cidade.
-Por estar aqui?! – Mil pensou nesse momento se estaria ainda a sonhar, e se este segurança não seria um desses seres impressionantes.
- Muitas pessoas o viram dirigir-se para aqui, e o senhor sabe o que significa quando certas pessoas reconhecem o seu caminhar…
-Sei muito bem o que quer dizer, e eu estou consciente das implicações que a forma como eu ando acarreta, mas isso não me obriga a impedir-me de andar em certo sítios. – Mil estivera em situações semelhantes dezenas de vezes, tendo já sido preso algumas delas. O segurança não parecia disposto a medidas extremas embora tenha continuado:
- Venha comigo.
- Não quero.
- As pessoas querem confrontá-lo.
- Não quero.
- Eles apenas querem que seja igual a todos nós.
- Não preciso. Estou melhor assim. – O segurança sorriu com complacência o que o irritou levemente.
- Pelo menos vá para um dos cantos do armazém, as pessoas não vão ficar tão chateadas se souberem que eu o expulsei do sítio onde se espojou, caso contrário arranjo sarilhos.
Sem uma palavra, Mil dirigiu-se para o canto direito (de quem sai) ao lado da porta e sentou-se mirando o segurança. Este foi-se embora satisfeito com a sensação de dever cumprido e com a estúpida sensação de poder. Afinal, tinha conseguido agradar às pessoas!
Mil decidiu sair quando o sol começava a despontar, enfiando os seus raios por entre as abundantes frestas do armazém. Comprou um jornal onde procurou anúncios referentes a emprego para topógrafos, e quartos para alugar. O dinheiro que juntara ao longo de alguns anos de trabalho começava agora a escassear e precisava de um sítio barato para dormir. Quando o despejaram da anterior casa por se recusar a viver de determinada maneira, vagueou pela cidade onde encontrou o que queria, sempre ao acaso sempre sem ter o azar de o voltarem a chatear por causa do caminho e do seu caminhar. Perturbava-o o facto se o segurança o ter importunado devido a esse problema. Depois de tantos dias sem nada lhe dizerem pensara já que tudo se tinha tratado de uma forma de o tirarem da sua própria casa, mas pelos vistos fora uma confortável ilusão que o levara a respirar fundo. A casa já não era sua, mas o problema continuava a incomodar. O problema que tanta confusão fazia a grande parte da sociedade. Lembrava-se bem do dia em que a autoridade o levou para o antro com o fim de o convencer a libertar-se do “fardo”, que tanto pesava (acreditavam eles) e que lhe mostraram dezenas de cadeiras de rodas para que ele escolhesse com toda a liberdade e consciência que o Estado lhe permitia. “O Estado é bom e inquestionável” ecoava-lhe na cabeça como o silvo de uma faca a afiar. A liberdade apregoada pelo Estado permitiu-lhe renegar a vontade de renunciar ao seu caminhar, mas a forma como lhe controlam a vida desde então tem sido dificilmente suportável, mesmo estando consciente da sua vontade. As 23 noites sem dormir foram sem dúvida a última provação. Mil esperava ceder enfim aos outros, se estivesse frágil e com o discernimento muito afectado, o que não aconteceu. A sua individualidade sobrepunha-se á vontade de libertação do Estado. Então continuou caminhando da única forma que sabia e queria, autónomo de rodas e máquinas, com as suas pernas.

1.19.2005

A juventude é que está perdida?!

Há uns dias atrás um amigo meu presenciou um fenómeno deveras revelador sobre o caos em que estamos Universalmente mergulhados. Numa praça pública da minha mui pacata cidade (ainda ontem era uma vila com 2 milhões de anos e agora é uma cidade com aprox. 15 dias), perto da escola primária (sim DA escola primária), uma mulher de quarenta e tais dirige-se a um petiz dos seus 6 ou 7 anos da seguinte forma: "Olha, vai pó caralho que ta foda!!!" Bom, isto é sem dúvida um ponto alto da civilização. A mulher não apresentava sinais de demência nem de perturbação( se bem que alguma coisa se arranjaria depois de observação aturada), e a radiosa frase foi dita alto e bom som sem qualquer problema de dicção. Porquê? Porque é que o petiz mereceu tão agressivo tratamento? Será que tinha posto um olho roxo ao filho da mulher; bebido o delicioso leite que oferecem nas escolas; tido melhor nota nalguma ficha? Ou pior, o puto ter-se-ia chibado a quem não devia acerca de comportamentos impróprios da mulher?! Ou pior pior ainda, seria o petiz filho da mulher e o desabafo seria de quem está farta de aturar o filho? Não sei!não compreendo, o que me torna impossível assimilar correctamente, mas o fenómeno existiu e há-de perdurar nas nossas memórias: a grotesca imagem do descalabro civilizacional. Melhor teria sido que o petiz tivesse gramado com um tabefe, que ter-lhe-ia doído menos com certeza... Mas bater já não se pode... Só barbarizar.

1.14.2005

Onda do caraças!

Anda tudo consternado com a onda que assolou os asiáticos do sudeste, e pelas razões erradas! Toda a gente berra o horror que sente por tamanha injustiça e crueldade da Natureza, ou de Deus. As fotografias da desgraça grassam por esses blogs fora, recheados de comentários coitadificantes e de espanto pela tremenda força que o mar e aTerra demonstraram. Até Deus anda metido ao barulho. Ele, que "mata" todos os dias biliões de pessoas é agora posto em causa porque matou umas míseras 160.000. E não vale lixarem-me a cabeça por escrever "míseras 160.000" porque é exactamente o facto de esse número ser demasiadas vezes debitado, que tira toda a credibilidade aos candidatos a óscar/urso de ouro/palma de ouro (escolher segundo ideologia política) de melhor actor de drama. As pessoas que ficam tristes e correm a anunciar a sua tristeza pela morte de pessoas deviam andar de luto constante e mudos pela irreverência de um Deus que todos os dias faz desaparecer do mapa tanta gente. Esta terra é o melhor espectáculo do Universo e a civilização permite que a bobine corra sem mostrar partes susceptíveis de chocar o grande caos Universal. É essa civilização que tem o dever de entender semelhantes fenómenos compreendendo-os, assimilando-os, evitando tentação de deitar tudo cá para fora antes que nos atinja na nossa existência. Na verdade certos comentários não me parecem mais que tremeliques de quem não quer assumir a própria mortalidade e a transfere para onde é mais fácil transferi-la: um sítio (preferencialmente longe) onde muitas pessoas tenham morrido ao mesmo tempo. África já não é tão utilizada porque este tipo de atitudes é como uma droga e com os povos desse continente, não obstante o craving mais que óbvio, a cena já não bate tanto.
A única lição que se deve tirar de ondas gigantes e outras catástrofes é igual ao que o TóHooligan afirmou numa entrevista há uns anitos:" Porque a gente pá, hoje tá cá e amanhã pode não estar pá. A gaja da foice anda aí pá, e um dia posso estar bem e no outro posso estar cheio de bicho pá. E depois ninguém explica!" Sem dúvida sábio, o Tó sabe que por muitas canas dos nariz que parta, por muito árbitro que desanque e por muito que berre, a Gaja da Foice vai andar semnpre por aí...

Xis Treme

Digam o que disserem o activismo de extrema direita é bem mais estúpido e cego que o activismo de extrema esquerda.

1.05.2005