8.27.2009

Do adiamento

Este mundo não é justo. A sorte determina totalmente debalde, que rico pleonasmo este, quem nasce num monte de esterco ou quem nasce amiba. Ainda nestas dicotómicas realidades, outras tantas características que a sorte determina e que podem providenciar ao indivíduo tornar o esterco em ouro ou em, pelo menos, palha. Ou a sorte que faz de indivíduos com quase tudo para resultarem, debaixo de tantas e tão fodidas circunstâncias, farrapos, ou simplesmente cadáveres não adiados por muito tempo.
Há tempos vi um puto ali numa praia perto da minha casa (praia de calhau portanto) mergulhar no mar bravo, quando mais ninguém se atrevia. Mas a braveza não é aqui de deprezar. Aquela praia tem uma pequena piscina natural, que está sempre cheia e onde os pequenos e alguns cuidadosos se refrescam. Pois nesse dia, a bravura marítima cobria essa piscina e vinha cá bem à fronteira onde sempre lhe tinha sido proibido chegar. Quando recuava levava consigo grande parte da água da piscina que ficava quase ao léu. Este puto estudava meticulosamente a maré e mandava-se de cabeça no momento preciso em que a onda mais vigorosa arremetia pela rocha. Apetecia-me bater palmas. Só o nervoso miudinho que o raio do puto me estava a causar, me impedia. E se houvesse um salva-vidas? O puto não só não estaria ali, como não teria forma de expressar o seu génio em relação ao elemento mar, utilizando provavelmente centenas de outras habilidades. O mundo de hoje é um mundo de caguinchas e o homem tenta a todo o custo anular o impossível, que é o factor sorte. Como se tudo pudesse ser controlado pelo positivismo infelizmente nunca caquético. O nefasto é que esse positivismo dá a resposta certa ao evitamento de risco: a droga. A droga é a sensação em segurança. Não podemos evitar que crianças vivam em certos contextos, sejam constituídas por determinada herança genética e criem um gosto pelo risco.
E se se fala tanto de multi culturalidade, fale-se também de multi comportamentalidade.

Não era nada disto, mas pronto. O que era é o do pessoal que até podia ter uma vida decente, mas adia. Adia para o dia em que terá o carro certo. Ou o emprego que merece. Ou a casa perfeita.

4 comentários:

LitaSuperDupperTruffer disse...

Depois de perder vários (mesmo vários) minutos a escrever aqui um belo texto, fiz uma grande porcaria e apaguei a janela sem o salvar, o que me deixou bastante zangada porque até era um textinho fixe e grande. Posto isto, resumo o que disse, em algumas frases:
A sorte é uma treta;
O puto, um dia, ainda fica como o do "Mar Adentro" e lá se vai a brincadeira das marés;
Analisar as hipóteses e escolher a menos perigosa, é que é!
Sou caguinchas;
Aperfeiçoar o bronze (o meu já provoca alguma inveja, mas também ainda não fiz outra coisa a não ser apanhar sol) em vez de mergulhar para rochas e ouriços assustadores, é que é (outra vez);
Não sei se já disse que sou caguinchas no que respeita a mergulhar para o mar alto;
Apesar de tudo, o fast forward ás vezes dá jeito.
Acho que este diálogo deve ficar nesta caixa de comentários: "- Did you just used the word Habitat in a sentence? - Yes. - OK."
Vou ver se consigo publicar o texto antes de apagar a janela.

Luis Prata disse...

Bom texto.

Abraço

Mono disse...

Abriste-me os horizontes!

Quero ter uma vida decente já!

Ou amanhã, vá...

Assim que arranjar casa.

Foda-se! Nunca hei-de ter uma vida decente...

PedromcdPereira disse...

Dá-lhe gás Mono.