5.11.2008

Conceptualmente atascados

O pensamento livre não deveria ser unicamente sinónimo de poder dizer parvoíces, de pensar em ideologias políticas bizarras, ou de poder ter ideias para revolucionar o mundo.

Animados do objectivo de discutir grandes causas, por vezes esquecemos que ainda não ultrapassámos os patamares básicos de pensamento e ainda não desenriçámos o novelo de conceitos que aceitámos unilateralmente como verdadeiros e totais. Por outro lado, estmos sempre dispostos a pôr em causa os conceitos mais largamente aceites como válidos, quer digam respeito a religião, à sociedade ou ao Universo. Por absurdo, parece ser mais fácil pôr em causa uma forma de organização da sociedade do que o conceito de soap opera, qualquer que seja a sua forma primordial.

Isto porque depois de uma discussão com dois amigos, sobre se poderíamos ou não definir a "série" Lost como uma telenovela (e porque não uma soap opera, uma vez que são praticamente sinónimos) fui acusado de pôr tudo em causa pelo simples facto de considerá-la, pela estrutura, uma telenovela contemporânea. Há obviamente um constrangimento risível em admitir que se gosta de uma telenovela, mas a vergonha da cultura popular que cada um de nós carrega é suficientemente conhecida, e não surpreende.

Mas afinal há outros que como eu põem tudo em causa e, pasme-se, até ponderam incluir a "série" Lost na lista de "Soap Operas", revolucionando a minha assustada contribuição para a considerar um simples telenovela.

3 comentários:

Luis Prata disse...

É o problema das séries intermináveis. É sem dúvida uma novela que me recuso em ver, pois parece que nunca vai acabar... Parece que estão a gozar com o telespectador.

Rogério disse...

claro que há mais pessoas que consideram o Lost uma «soap opera», da mesma forma que há mais do que uma pessoa que acredita que o Elvis não morreu nem que o Homem tenha ido à lua.
De qualquer das formas, a questão-base é a da catalogação. Já existem os conceitos. Os conceitos é que foram discutidos, não a inclusão de uma novela num ou outro conceito. Da mesma forma que há artistas de transição (cuja obra não é inteiramente de um ou do outro movimento).

Claro que há zonas cinzentas, mas para podermos discutir a inclusão de algo numa zona cinzenta, há que definir o que é o branco e o que é o preto.

Se queres considerar o Lost uma soap opera, considera. Ao menos fá-lo consciente de que o conceito de soap opera é específico dos EUA (embora exportado mais tarde) e não é a mesma coisa que uma "série".

PedromcdPereira disse...

"A acção da telenovela compõe-se de um conjunto de intrigas interligadas que se desenrolam em paralelo partindo, quase sempre, de um mistério surgido no episódio inicial (o desaparecimento de uma criança, um assassínio, um amor dificultado por muitos entraves, etc.) e convergindo para um final emocionante, apresentado no último episódio através de uma sucessão de revelações e desenlaces relativos a cada intriga. As personagens são, na sua maioria, estereotipadas embora se assista a uma crescente modelação do seu carácter, na tentativa de conquistar maior audiência. O público tem um papel preponderante na definição dos contornos narrativos uma vez que o destino de algumas personagens é determinado pela receptividade dos espectadores" http://www.fcsh.unl.pt/edtl/verbetes/T/telenovela.htm

Lost: intrigas interligadas a dar com um pau

mistério inicial- queda de avião

personagens estereoptipadas- temos o drogado, o médico, o caçador, o gordo...

O papel preponderante do público é notório, por exemplo, na suavização de Sawyer que no início era apenas detestável...