5.08.2008

Apregoar

É quase sempre feio apregoar. Mais feio, quanto mais veemente e pessoal é o pregão.
As desfasagens entre desenvolvimento emocional e intelectual notam-se muito bem em quem, sem noção dos que tem à sua volta, faz alarde do que julga serem excepcionais capacidades. Como se notam as desfasagens? Uma criança faz naturalmente questão em mostrar as suas habilidades e fá-lo por uma necessidade de reconhecimento do mundo que conhece, para se sentir integrada e para perceber qual o caminho certo de aprendizagem intelectual. Fá-lo de forma desinibida, honesta e directa.
Um adulto que tem exactamente esta mesma necessidade de reconhecimento, já não julga que exista a necessidade de encontrar um caminho de aprendizagem. Pelo contrário, apesar de querer o reconhecimento quase à força, o caminho da aprendizagem é tido como certo e o que se quer agora é uma superiorização, uma imposição de formas de aprendizagem ou de interacção, ainda que profundamente erradas.
Aproveitando o desenvolvimento intelectual que adquiriu com o tempo, pode agora alardear as suas habilidades de forma velada, indirecta mas sempre objectiva. Tão objectiva que a dissimulação não passa de grotesca máscara sobre um discurso infantil com palavras mais evoluídas.

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