4.23.2008

Mas porque é que estas coisas não se fazem só depois da morte aparecer?

Mais uma grande exposição dedicada a Saramago vai assombrar Portugal nos próximos dias. Vamos ouvir a inanidades de um homem que até podia ser gostável devido aos dois ou três livros de grande qualidade que escreveu. Preparai-vos para ouvir coisas que sairiam na boa da boca do cantoneiro que anda a desentulhar as sarjetas da vossa rua: "isto era vir uma bomba e limpar estes capitalistas todos." " Isto na Espanha não é assim que eu tenho lá um primo que me diz que uma pessoa, em querendo, não há ninguém que diga que tal."Isto" representa metaforicamente o mais complexo do pensamento político de Saramago.

Espanha é outra palavra chave. Foi lá que a exposição foi pensada e elaborada. O pessoal intelectual do lado de cá, com medo das bocas que viriam dos lugares comuns do costume:"os espanhóis dão-lhe mais valor do que nós"; "nós não damos valor ao que é nosso"; "nós só fazemos destas coisas quando as pessoas morrem", lá decidiram pedir emprestada a exposição para também ter cá. Considerando cada uma das frases entre aspas um exemplo rotundo de como este mundo em geral, e Portugal em particular, podem ser uma grande seca, escuso-me, porque não sei, a especificar as palavras "nós", "pessoas" e "espanhóis".

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