12.19.2013

Xeque-Merda

No xadrez existe um problema que deve ser comum a outros jogadores medíocres como eu: enquanto antevemos as jogadas, a causa e o efeito, o eco dos nosso movimentos, perdemos um certo fio à meada. Quando nos damos conta, tudo bem, basta voltar ao início e refazer as hipóteses outra vez. O pior é quando escolhemos a jogada do meio sem o adversário ter feito a que levaria a essa escolha. Jogada estúpida e denunciada é o resultado. Na vida há quem faça isto nas relações quotidianas, ignorando a desfaçatez com que escolhe as jogadas do meio sem os outros terem escolhido as peças a mover ou, pior ainda, sem estarem a jogar. A paranóia tem várias formas e esta é uma das mais finas, mas ,à sua maneira, tão tonitruante quanto as outras.

11.22.2013

2

A maior aprendizagem destes dois anos é a da intensidade do amor. Como é possível haver estes caminhos tão diferentes, tão cheios, de afectos? Como merecer cada passo? A certeza desse tal amor segura com betão cada gesto, olhar e declaração. Mas abana tudo a cada tontice, a cada deriva friorenta ou alienação sentimental. O segredo é não ser imune a todos os avisos. Do bem e do mal. Parabéns.

9.12.2013

Não fui na cantiga


No carro, hoje dei hipótese ao rádio. No rádio ia passar uma dessas bandas que estão um pouco na moda, assumindo que alguma coisa pode estar na moda em Portugal. Os Peixe:Avião. Ora bem, esta banda começa mal, com aquela voz de homem que gostava de ser uma menina: freak, alternativa e cheia de sentimentos imperscrutáveis. Ou perscrutáveis por eleitos, profundos como imagino serem os ouvintes (apreciadores?) da banda Peixe:Avião. Nem vou deambular pelo nome da banda. Surreal ou sem sentido? Parvo será o adjectivo. Parvo de pequenino, de não haver ali cabeça que pense:-"Isto soa estranho e como o objectivo é mesmo esse, àqueles que se depararem com o nosso nome e não forem uma amiba, vão achar-nos umas bestas pretensiosas, que até somos, mas pelo menos cantamos em português." Pelo menos parece.

Uma pessoa escreve peixe no youtube e aparece logo: peixe no forno. Este nome é muito melhor. Peixe no forno alude à cena popular que agora também está na moda como os Diabo na Cruz que até sim senhor.Um alaúde é o que estes peixavião deviam tocar. Com umas collants. Pela voz que têm, é o que devem usar. Bem apertadinhas para lhes apertar os colhões, que é uma banda do Sabugal muito jeitosa que toca punk rock daquele purinho da fonte mesmo.

Os peixavião enfermam do mal de todas as bandas pópróc portuguesas que tive o desprazer de ouvir nos últimos tempos. Vozes de menina agachada a um canto a fazer xixi, e a pretensão intelectual (nem escrevo intelectualóide porque isso dava aqui pano para mangas)com umas guitarradas que tresandam a colagem de cenas de outros países como a américa e a inglaterra. Os Linda Martini, que são um pouco mais antigos, também soam a Sonic Youth às vezes, mas estes são bons. Chegaram a tocar a Scratch the Surface dos Sick of it All o que os iliba para a eternidade de uma crítica má da minha parte, a não ser que façam um álbum de tributo aos blind zero, que como todos sabeis é a pior banda de sempre do mundo e Universo, tendo isto sido confirmado pela Nasa, com um desvio padrão de vários milhões de anos luz.

Estou farto destas bandas de meninas que tentam imitar o estrangeiro. Atentai: um inglês como o Thom Yorke a esganiçar é uma coisa bonita, notando-se ali sentimento e borrifamento para a pose (o gajo até é visgarolho e se calhar não tem outra hipótese). Além disso é inglês e toda a gente sabe que os ingleses têm níveis preocupantes de rotice no sangue. As bandas portuguesas cantam esganiçadas e percebe-se um falsete que envergonha, como se fossem meninas a cantar na festa de natal da escolinha. Isto não tem nada de fofinho, quando depois se vai a ver e é um marmanjo, muitas vezes careca ou com barba a cantar aquilo. Dá vontade de dar uns murros na cabeça do gajo a ver se a voz fica bem, como quando se mandavam murros na televisão para melhorar a imagem.

Mas o pior, pior é essa ideia de que fazer cantigas é falar de sentimentos por metáforas merdosas, eufemismos trambolhos, hipérboles histriónicas ou perífrases cacofónicas. Não, pá.

O que vale é que no rádio tinha o cd com uma das mil compilações caseiras. Quando carreguei estava este som: simples, verdadeiro, bom, reflexivo, perturbador, 100% isento de rotice.

9.08.2013

Fixe, fixe era o Dave Grohl deixar-se de merdas e juntar-se a uma banda para ser o baterista. Só baterista.

8.20.2013

Produção portuguesa

Vejo de soslaio aquela série sobre o Sebastião José de Carvalho e Melo. Apesar de esforçada, noto agora que a banda sonora é absolutamente ridícula. Meteram um gajo com um órgão Casio a tocar uns pífaros nas teclas e pronto: eis a merda. Vão-se foder, pá.Nunca lá chegaremos.

8.18.2013

Amigalhaços da Bebida



Apesar de não ser um filme totalmente adulto, uma vez que trata das inconstâncias e incertezas da passagem à adultícia, não gramamos com mais uma comédia à la "Ressaca" com cenas que nos aconteceram há uns anos, em formato HD. Drinking Buddies, trata de relações e emoções. Assunto batido mas sempre mais inovador do que gregórios em locais abectos, robôs de aço ou gajos que têm piada porque são parvos. "Relações e emoções" é assunto que dá em combinações infinitas e apesar do enredo não ser surpreendente, consegue exaltar-nos.
Além disso, temos Olivia Wilde.

7.02.2013

Generosidade

Várias vezes encontro renitentes em receber.Daí, escrevo muitas vezes sobre isso. O narcisismo numa das suas facetas não permite a generosidade alheia. Aceitar implica, para mentes tontinhas, fraqueza, cedência, qualidade no outro. Como reconhecer qualidade no outro, sem me pôr em perigo? Eis um dilema basilar e ridículo da engraçada espécie humana.

6.02.2013

Hominídeo

Ainda que ter as contas pagas na mercearia seja um bom começo para se ser um homem a sério, honestidade carrega muito mais significados indispensáveis à constituição de um Homem.

3.06.2013

Zed Lepellin

Depois do "How the West was Won" os Zeppelin deviam ter sido proibidos de editar mais álbuns ao vivo. Ainda não recuperei da desilusão do "Celebration Day". Aguardo injecção valente do tal "How the West was Won", álbum de grande gabarito com os gajos a arranhar o metal.

Um mundo com sentido (sem jogo de palavras por favor)

A prova maior da minha ingenuidade é ter percebido há tão pouco tempo de que a política e respectivos modelos não são mais do que espelho de organizações de personalidade. Ideologia é, para todos os efeitos, perturbação de personalidade.

2.28.2013

Um cinema infantilóide

Joel Neto aponta, e bem, a infantilização do cinema que tem arrastado zombies incautos para um cinema vazio e cada vez mais longe de um entretenimento com um causa. Cinema tem sido sinónimo de dinheiro, óculos 3D e vácuo mental.

Com Moonrise Kingdom o espectro da infantilidade cinemática não desaparece por razões óbvias. No entanto, não deixa de ser irónico que apesar de protagonizado por crianças, seja mais maduro do que a maioria da escória que por aí anda com bonecada de super heróis e tal.

2.18.2013

Uma moral à tua medida é uma imoralidade

Haverá poucos assuntos tão debatidos quanto este. Mas é fácil e até a Bíblia explica: quando o fariseu dava graças a Deus por não ser pecador, Jesus apontou o publicano, humilde e consciente da sua imperfeição, como o mais valioso para a moral. Este último nem se atrevia a entrar no Templo para não chatear muito.

Assim encontro eu, mercê desta sempiterna crise, cada vez mais fariseus preparados para apontar as batidas e repetidas faltas do pobre português. A cunha, o favorzinho, a subserviência. A verdade é que cada vez mais, mercê desta malvada crise, vejo os mesmos fariseus adaptarem com uma naturalidade abjecta os padrões anteontem tão exigentes com o Relvas.

Pode ser uma espécie de cobardia assumir o lugar do publicano, mas nestas coisas da humanidade, de peito aberto só se for para o bem de todos. Quando é para armar ao pingarelho costuma ser revelador de fraqueza.

1.18.2013

Uma pertença

Talvez nunca me pudesse considerar Terceirense se não passasse um Inverno como este. Nunca como agora me senti confortavelmente afrontado na minha pequenez humana. No Sabugal é diferente. Para o rigor do frio, um casaco; para o raio que cai a 2 metros, o imponderável; para a chuva e a cheia, um imenso continente. Aqui, uma imbatível perenidade dos elementos que nos lembra de forma perversamente afável o nosso lugar. O nevoeiro que se mantém e contra o qual temos de conviver dias a fio; o vento agressivo que finge afeitar o mar mas ruge enquanto nos olha de soslaio pelas janelas tremeliques; o mar por todos os lados (é preciso dizer mais alguma coisa?).