9.03.2007

Existência

Andar pelo mundo é custoso e apesar dos subterfúgios que vamos arranjando para nos esquecermos disso, a verdade é que a vida se abate sobre nós com a crueldade do acaso e do caos que nos governa desde que nascemos. Ainda que crentes, não podemos descurar o livre arbítrio que consolida o caos dos acontecimentos que nos possibilitam a fruição de diversas emoções e sentimentos. Não sei se devo falar de fruição quando os sentimentos são os que nos fazem penar, no entanto eles existem e nós sentimo-los. Só quando os mais complexos sentimentos e acontecimentos nos atingem nos apercebemos da nossa fragilidade e imaturidade que julgávamos estar a ser solidamente construída. E são aqueles de que mais nos falam, os que temos mais dificuldade em perceber.

Como lidar com a perda, a ausência, a saudade, a morte? Desde sempre que nos habituamos a saber da sua existência mas sem nos preocuparmos demasiado com isso:"o mundo tem sido bom para nós e de certeza que há uma explicação e uma resolução para todas elas." A morte é, enquanto somos pirralhos uma coisa estranha que ultrapassa as nossas básicas capacidades de compreensão. É quando nos apercebemos da sua irrevogabilidade, que começa a doer a sério. Será com tempo e sabedoria que saberemos lidar com ela. O lidar com ela implica que se saiba aceitá-la e não confrontá-la, nem esquivar-se. Não vale ser forte, mas sim vulnerável. A morte é demasiado avassaladora para ser confrontada à força bruta. Ninguém diria a alguém que fosse confrontar um urso: "Sê forte"! Assim também me parece que não é coisa que se aconselhe a quem deve lidar com a morte de alguém. Quem é forte não tem tempo para sentir a dor. Sentir a dor é fundamental para que ela se vá embora voluntariamente passado algum tempo. Sendo forte, tenta-se impedir que a dor entre com toda a força, mas só se vai conseguir que ela vá entrando insidiosamente durante um largo espaço de tempo, causando mais estragos...

Não há fórmulas, mas a aceitação das emoções/sentimentos costuma ser uma forma eficaz de os controlar mais facilmente. E controlá-los é conviver com as situações que os provocaram, e relembrar progressivamente de forma mais "content" a pessoa que foi a principal geradora de sentimentos a que nos habituámos e que serão irrepetíveis.

5 comentários:

Luis Prata disse...

Grande texto.

Acerca desse tema, talvez possas ver este filme:

http://giraminhavolta.blogspot.com/2007/06/star-movie-fountain.html

PedromcdPereira disse...

Thanks. Já topei esse filme no teu tasco, agora vou vê-lo.

Anónimo disse...

gostei mto do texto. obrigado

cuz

Lisa disse...

Epa... não estava à espera desta profundidade emocional no teu blog. Temos de te tirar o chápeu: a verdade é que não vale a pena mascararmos o sentimento doloroso da perda. Aliás, tal como o disseste, ao tentarmos esquecê-lo, permitimos a sua brutal emergência, de forma tardia e inesperada. Temos de aprender a lidar com o inevitável e com aquilo que não podemos controlar, e viver... Beijinhos. E belo texto, sim senhor! :)

PedromcdPereira disse...

Obrigado a todos.
This was really for you cuz! Hang on little bro.