Importa explicar de que forma é que o homem é parasita e só o deixará de ser, se se tornar irracional. E só me dou a este trabalho porque toda a gente sabe que eu acredito na gloriosa humanidade liderada pelos gigantes da ciência.
O homem parasita o mundo porque necessita disso para alimentar a sua mente, a sua inteligência, o seu conhecimento. Um burro chega ao pé de uma flor e se lhe agradar come-a. That´s it. O homem se vir uma flor que lhe agrada, cataloga-a, dá-lhe um nome em latim, outro na sua Língua, tira-lhe fotografias, publica-as no livro e torna um ser vivo único e fenomenalmente interessante, numa coisa essencialmente banal, ainda que aumente o seu valor perante a mente e a inteligência do resto da humanidade. É um ciclo. O homem olha para a lua, vê as ondas do mar a bater na areia, e tem logo que arranjar ali alguma coisa palpável, para tornar o caos do que acontece a cada momento numa coisa controlada pela inteligência. É a chamada coisificação. Então escreve um verso lamechas sobre a lua e o mar. Claro que grandes génios podem tornar esta rude coisificação numa coisa sublime, mas são raros.
Quanto ao parasitismo da ciência, acho bonito. É bom parasitar para conhecer. Uma árvore não tem sentimentos, porque é que se há-de importar que se conte a sua provecta idade através dos anéis do tronco? Além disso está morta. O homem precisa de saber, e fica contente com isso. A racionalidade confere ao ser humano uma sensibilidade que vai muito além do continente de qualquer corpo.
Os espirituais também parasitam. Um zen parasita o oxigénio que respira e transforma o silêncio num ícone transparente e sagrado. Tudo porque também querem conhecer mais, utilizando a sua racionalidade de forma encapotada. Por exemplo, apreciam a tal flor sem dar importância ao nome em latim afirmando que não é importante, mas dão-lhe um significado transcendental que a flor no seu perfeito juízo jamais assumiria. Esta forma de viver parasitando também é bonita, mas mais uma vez, só possível à nossa maravilhosa racionalidade.
7.14.2005
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