6.17.2005

Revolution, evolution...

Os camaradas Álvaro Cunhal e Vasco Gonçalves* deixaram-nos. Grande comoção pelo país, principalmente à esquerda. Perfeitamente compreensível. Álvaro Cunhal dedicou a vida à aventura comunista: prisões, clandestinidade, fugas... Toda essa aventura tem grande valor porque a luta contra a ditadura de direita era o que o animava.
O companheiro Vasco apoiou o golpe de estado (revolução) de 25 de Abril e quis ser primeiro ministro numa altura complicada. Não fez o que devia? Também não esteve lá assim tanto tempo que estragasse tudo irremediavelmente, como certa direita afirma.

Parece-me justa a homenagem que alguns portugueses lhes fizeram. Considero-a como um prémio da luta que empreenderam contra a ditadura. Não se podem esquecer as opções políticas e os erros governativos, mas isso felizmente podemos relevar e olhar com condescendência, porque a democracia e a liberdade (a sério) chegaram a tempo.

É por isso que considero Cunhal um homem de sorte. Além de não ter sido morto pela PIDE, e de todas as circunstâncias que permitiram a sua longa jornada de clandestinidade. Cunhal é um homem de sorte porque não conseguiu o que queria. Não pôde pôr a andar a máquina soviética no nosso país, e por isso não poderá nunca ser recordado como um facínora totalitário e sanguinário, porque não o foi. A sua incompreensível admiração por Estaline não passou da ideologia e da fantasia, e isso foi bom para ele.

O companheiro Vasco ainda conseeguiu fazer algumas macacadas, mas mais uma vez o tempo foi seu inimigo e não o deixou tornar-se num homem odioso. Claro que Cunhal esteve por detrás de todas as medidas dos governos provisórios, mas o responsável máximo era Vasco Gonçalves*.


p.s. Será que viver uma vida segundo os mesmos princípios, alheio ao que se passa no mundo, não admitindo alternativas a esses princípios que o quotidiano se encarrega de tornar obsoletos, tiranos e erróneos, é uma grande coisa? E se se lembrarem de tecer loas ao hitler segundo esta lógica? Ele não teve sorte...

* corrigido depois de percebido o indesculpável erro.

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