Escuro como o breu, sempre escuro. A hecatombe não permite a luz, a não ser na imaginação. Duas semanas na mais completa obscuridade, sem energia sem poder ver rosto nenhum, porque tudo é fuligem. Os pulmões contorcem-se e o nariz distingue cheiros com dificuldade. Cada indivíduo torna-se uma terrível ilha. Uns desesperados ocupam-se de assassinar debalde. Ninguém se defende porque os sentidos são inúteis. Ninguém fala pois os tímpanos que ficaram intactos depressa se destruíram devido aos sons lancinantes que continuamente ecoam por todo o lado. Só o tacto serve. Para os assassinos tocar é matar. O pior da humanidade domina em apenas duas semanas de caos. Andar, mover-se, sobreviver é um perigo de tal forma real que poucos tomaram consciência dele.
M. está de pé e imóvel no meio do que seria a sua rua, desde o dia das grandes explosões. Mantém os tampões nos ouvidos que levara ao concerto de punk-rock. Está aterrorizada. Sente o barulho lancinante e pior que isso, ouve as hordas de assassinos desorientados e os gritos das suas vítimas. Ainda nem teve coragem de se deitar ou sentar. Os seus dias têm-se passado numa longa e penosa espera para que tudo aquilo passe. Não consegue tomar uma decisão que seja. Pensou em tirar as protecções dos ouvidos quando se apercebeu que os gritos das pessoas agonizantes e assassinadas iam ser contínuos. A sua coluna vertebral está em fanicos. O frio, os tremeliques, o cansaço e o ruído vão curvando M. a pouco e pouco.
Quando sentiu a respiração e o cheiro de alguém que se aproximava abriu os olhos que se encheram imediatamente de fuligem e soltou um grito. Finalmente emitia um som, um grito. Sentiu a lâmina nas suas costas, e nesse momento desejou não ter ficado ali parada, à espera do fim.
4.18.2005
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3 comentários:
Coitada logo teve o azar de encontrar os Holocausto Canibal pela frente.EEEEMMMPPAAAAALLLLAAAAMMMMEEEEENTTOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO.Violada pela motosserra
moral da ztória.. quem nao nada.... afoga-se! eheh ;) Parabéns ao blog!
Thanks Puão! Como é que estamos a nível de Espanhas?
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