12.30.2004

Ena pá, 2004!

Olho para o início deste ano a partir do fim em que me encontro e apercebo-me alegremente que tenho mais uma resma de inimigos. É certo que não passa de canalha sem grande valor, mas ainda sou novo e os ódios que espero granjear no ano que vem deverão subir de qualidade. Como li algures: se no dia em que morrer não houver ninguém com uma vontade genuína de escarrar no meu caixão, então a minha vida terá sido vazia (não era literalmente isto mas muito parecido). Estes inimigos que ganhei foram conseguidos com trabalho árduo, pois felizmente nenhum foi ganho à porrada (esses nem deveriam contar) mas sim no acto de lançar o verbo.
Eu acredito que não se deve dizer tudo o que nos apetece e quando nos dá na vena, porque a "frontalidade/sinceridade/eu o que tenho a dizer digo na frente" são por si expressões normalmente utilizadas por quem nem no íntimo consegue ser honesto, servindo-se destas mesmas expressões para desculpar alarvidades que se dizem sem pensar e sem ter em conta que o que está a ouvir é um ser humano e não um caixote do lixo. Por isso o homem civilizado tem formas de lidar em sociedade que lhe permitem não andar sempre em conflito (provavelmente foi a época dos duelos que permitiu tal evolução), como o sorriso que é o maior organizador mental desde o nascimento e que hoje é amplamente utilizado com o fim de não criar guerras estapafúrdias entre as pessoas. Vejamos: Um tipo não gosta da forma como o outro tipo se veste. Por coincidência esse tipo é amigo da namorada (acho que estou a exagerar), que uma noite decide apresentar um ao outro.
hipótese 1:
- Este é o X. X este é o Y.
- Boa noite. Eu como o que tenho a dizer digo na frente, cá vai: não gosto das putas das tuas calças e acho que te vestes como um neandertal atrasado mental!
- Eu, além disso acho que devias tirar de uma vez por todas o cadáver que tens na boca, porque pelo cheiro já aí está há meses!
-Olha, vai pó caralho!
-Vai tu palhaço de merda!- Grande confusão e porrada sem necessidade. À conta disto estraga-se uma noite...
hipótese 2:
-Este é o X. X este é o Y.
-Boa noite tudo bem?
-Olá como estás?
-A beber uns copos...
-Hoje isto tá fixe...
(Silêncio)
O gajo que veste mal, constrangido, vai embora.
Isto tudo para dizer que há arte em fazer inimigos (homessa! Também já vi isto em algum lado). Não é de qualquer maneira. Deve ser com atitudes coerentes (incoerentes para irritar ainda mais) discursos o mais cordatos possível, e com a noção perfeita de que a liberdade de pensamento permite-nos ir aos confins da argumentação. O inimigo fica aquele que, não acompanhando, desiste e entra no insulto. Aí sim, está ganho!

1 comentário:

Anónimo disse...
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