12.13.2004

Desprezo

Acho incrível que nos dias do século XXI ainda haja pessoas que caem na asneira de demonstrar o seu humanismo sob a forma de compaixão. Isto acontece principalmente quando certos elitistas citadinos se dirigem para as zonas dos pacóvios (segundo as descrições deles é a ideia com que se fica das pessoas do interior), e falam com grande alegria do senhor José Pacóvio e da forma como este lhe serviu um copinho de vinho à lareira e como foi engraçado ver ao vivo os engraçados costumes da gente da pacóvia terra. Tal como o explorador observa os animais no seu quotidiano, estes palonços da cidade observam os pacóvios da aldeia e acham giro. Eu achava giro se um desses desejosos de contacto com a pureza humana (com pacóvio da aldeia), desse de caras com o Ti Zé da Horta da minha terra. Aqui vai um possível episódio:
O Ti Zé da Horta dirige-se para a horta com a enxada ás costas enquanto o sr. doutor armado em antropólogo da cidade o interpela com um sorriso condescendente nos lábios.
- Bom dia! A tratar das couves não é?
-Bom dia... Não, tratar das batatas.
-Ah! Muito bem, e são boas as suas?
-Sei lá! Vá lá ver você!
- Até vou.
-Venha de lá então homem.
Obviamente o palonço da cidade estaria, em menos de um fósforo a sachar batatas todo contente, porque estava em contacto com a natureza. Enquanto isso beberia uma intragável zurrapa ( da mais rasca que o Ti Zé da Horta não é de borlas), e ainda guardaria essa memória com agrado para contar aos seus amigos da cidade. Com sorte levava um pontapé no rabo e com um estadulho na cabeça, quando a pouca paciência do Ti Zé da Horta chegasse ao fim.
Homens nobres e broncos há-os de todas as classes e o Ti Zé da Horta como nobre que é não gosta que os broncos se comportem com ele como se fossem superiores, porque na realidade ele sabe o que vale, não precisa que lhe ofereçam conversa de chacha valorizando-o.

2 comentários:

Anónimo disse...

Desculpa lá, mas tens essa merda toda mal organizada. Eis como devia ser: tu angariavas os parolos da cidade e cobravas-lhes um bilhete de custo módico (para aí uns 10 euricos) para irem conhecer a boa da vida no campo. O teu compadre deixava-os sacholar um bocado, envenenava-os com a zurrapa e pronto.
Tu ficavas om uns 60% da féria, o Ti Zé com o restante e ainda com a horta tratada com menos trabalho. O citadino palonço guardaria uma fascinante e enternecedora história de partilha das agruras da vida campestre. Todos ficavam a ganhar!

Luis Rainha

Anónimo disse...

Realmente não está mal visto não senhor... Obrigado pela ideia.