3.02.2011
Acerca do "Magnificent Ambersons" e não só
George Amberson nunca chega a perceber-se como principal força motriz do trenó onde a família embala para o abismo. Em “The Magnificent Ambersons”, no entanto, a gutural voz do narrador e realizador Orson Welles assinala-nos desde o início a triste inevitabilidade desprezada pela soberba do petiz da opulenta família. O filme retrata, assim como o livro, a ascensão da burguesia trabalhadora e o declínio de algumas famílias teimosas em manter um presente impossível porque exclusivamente radicado no passado. A industrialização chegara, e com ela, a justa mobilidade social. Claro que este romance acentua os extremismos de um processo nem sempre tão violento. O traquina George é o arquétipo do menino mimado que assume a necessidade de não fazer nada na vida, a não ser estar pr’aí. O bem-parecido Eugene é o homem de negócios auspicioso, investidor e co-inventor de uma tecnologia que permite andar em coches sem cavalos. O óbvio fica-se por aqui. A família Amberson nunca é retratada como vil, mas como ausente de uma comunidade cada vez mais viva e activa. Escolhendo o alheamento por via do amor ao reprovável George, os Ambersons vão naufragando na voragem dos caprichos do jovem. A sociedade, longe da santidade, não perdoa. Na América não há aristocracia, logo, não há intocáveis. De uma forma também ela algo reprovável ma non troppo, a comunidade de pronto arreganha os dentes quando sente fraqueza. Não com revoluções e muitos tiros como se fazia Europa, mas com regozijo no bater de palmas ao naufrágio há muito anunciado. Numa comunidade os papéis vão sendo reciclados, mas os Ambersons não sabendo reinventar-se, clamaram por imolação. George terá sido, afinal, o Escolhido.
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2 comentários:
O trenó não é do Citizen Kane?
Já não me lembro muito bem do filme, mas recordo que o vi numa sessão do Lauro António na TVI há 10000 anos atrás, e que era bem bom, como de resto, tudo o que o Orson Welles fez.
Sim, o rosebud é do Kane. Mas neste também há neve e trenós.
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