É certo e sabido que em Portugal, assim que haja um crime mediático ou incêndios em abundância, os cidadãos, sem distinção de classe social, ocupam-se com afã de atacar a psiquiatria e a psicologia usando de argumentos tão válidos quanto medievais. Aliás, enquanto atacam a ciência, glorificam métodos inventados com alguma criatividade por Torquemada no recomendável século XV.
O engraçado e inovador neste movimento tão português e tão Verão, é que se o movimento de anti-psiquiatria original tinha como objectivo defender os cidadãos de práticas excessivas da ciência, o movimento anti-psiquiatria de Verão compele a sociedade a utilizar com severidade a ciência contra o ser humano. O movimento exorta a experiências utilizando o fogo, o chumbo, aço inoxidável ou cordas de ráfia em seres humanos, com a eventualidade quase sempre desejada da morte do experimentando.
Interessante como são postos em causa os diagnósticos recorrendo a silogismos aceites pela maioria da população. "Ai pegou fogo à mata? E dizem que é maluco? Só para vir cá para fora outra vez!" No fundo as pessoas não acreditam que alguém que pegue fogo a alguma coisa sem outro propósito que não seja o acto em si, não esteja no perfeito juízo. As pessoas também gostavam de pegar fogo às coisas e ficam lixadas quando alguém o faz e não os chama para ver o espectáculo. Os cenários dantescos são apelativos e as pessoas querem, já agora, acabar o servicinho e se temos mata a arder nada como colocar lá um ser humano dentro como forma de sacrifício e de agradecimento às divindades por tal espectáculo da natureza.
E há por vezes a ideia de que esta época é a delícia de qualquer cidadão histriónico. Os telejornais proporcionam às mais variadas senhoras a possibilidade do espectáculo de uma vida. O fogo avista-se e os berros irrompem com o fulgor de uma Valquíria.
Momento demagógico: não vejo o movimento tão activo quando se trata de baixas médicas por depressão.
8.23.2010
Um movimento anti-psiquiátrico abalizado
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