4.07.2010

Algures num destes Domingos, no Diário Insular...

Em nome do pai
PN: Ainda há pouco se festejou o dia do Pai e, provavelmente, alguns leitores pensam que me vou debruçar sobre o papel paternal no seio da família. Muitos aproveitarão para clamar: “Aí está ele a dizer mal outra vez!”. Porém, que poderei dizer de negativo sobre a figura paternal?
Na verdade, só posso elogiar todos os meus confrades que não só se esmeraram no acto da procriação como sobretudo na educação dos seus primogénitos. Ainda para mais quando se ouve dizer que a família já não é o que era, que os valores da família estão desvanecendo e que as novas gerações irão pagar caro as transformações das sociedades ocidentais.
Obviamente que, como diz a voz popular quando recorre a máximas quase sempre certeiras e mesmo apesar de se basear no senso comum sem nunca ter usado as diversas “démarches” que a ciência obriga para comprovar determinado facto da natureza seja ela biológico, físico ou humano, mas, dizia eu, como diz o povo esta temática tem “pano para mangas” e, não obstante ter utilizado a palavra pai no título desta crónica, o meu propósito tem que ver com uma teoria bastante insólita que ouvi da boca de um fervoroso crente que tentou justificar como o Pai, o Filho e o Espírito Santo podiam ser um só, unidos numa mesma entidade.
Perante um ateu militante, o tal aduloso crente, que até trazia vestes e usava barba e cabelo comprido imitando Jesus Cristo, explicou que a água também podia transformar-se em três elementos, a saber líquida, gás enquanto vapor e sólida na forma de gelo. Gostei desse argumento mas reconheci que não é com estas teorias que se convence os mais cépticos de que Deus existe e que a Bíblia deve ser interpretada literalmente.
No entanto, sabe-se que hoje em dia muitas vozes questionam a teoria da evolução, contra-argumentando com ideias mais ou menos criacionistas que seduzem cada vez mais as pessoas desiludidas com as religiões monoteístas e com uma ciência que nem sempre responde às expectativas criadas.
RS: Bem, a ter em consideração as respostas que ciência e a religião dão às perguntas, veremos que algumas se vão alterando ao longo do tempo. Nenhuma detém respostas definitivas. Contudo, a ciência tem tendência para alterar mais rapidamente as suas visões e a religião tem uma taxa de actualização muitíssimo mais baixa. Ainda não consegui engolir que Plutão já não é um planeta – quando era miúdo era planeta; agora já não é. Ao menos o Limbo levou mais do que quinhentos anos a desaparecer…
Quanto ao dia do Pai, não posso deixar de sorrir ao elogia que fizeste a todos os que se esmeraram na velha arte de fazer bebés. Havia uma teoria no século XIX que colocava a tónica no estado de espírito dos progenitores durante o acto como transmissão de características psicológicas às crianças. Pais felizes faziam bebés felizes; pais tristes, filhos tristes; sinto que os meus pais estavam meio distraídos…
Gostaria também aqui de deixar o meu elogio a todos os que se continuam a esmerar na arte da procriação, como diz o Noval. E também os que educam todos os seus filhos e não apenas os primogénitos. Faço-o não tanto por uma questão de conceito de família mas porque assim sinto que trabalho todos os dias em prol da melhoria de vida das gerações que aí vêm, incluindo a do meu. Caso contrário, passo a pensar no trabalho como benéfico apenas para mim e os da minha geração.
PP: É enternecedor ver dois pais a tentarem vender a ideia de como é óptimo ter filhos, como quem anuncia o seu contentamento ao comprar a última novidade da TV Shop. Meus caros, anotei mas não vou fazer a chamada. E Paulo, dizer que o povo utiliza máximas quase sempre certeiras só acirra o meu fraco sexto sentido (parece que nós homens o temos e as mulheres têm um sétimo) de estar perante marosca e publicidade enganosa. A marosca da responsabilidade de termos todos responsabilidades procriadoras, como se de animais de estábulo nos tratássemos, é perigosa ainda mais quando os argumentos fedem com outros, de serem sempre os mesmos. - É para o bem da Humanidade e do Estado. Dizem com ar grave alguns dos bovinos. Sejamos humildes e honestos. Para o bem da humanidade? Do muito pirralho que tenho conhecido, uma mão cheia contribui para a não deterioração do prognóstico, já de si reservado, do futuro da humanidade. Mas atenção, não descartei a hipótese de dar uns primos aos meus sobrinhos. Os meus genes não são menos egoístas do que os dos outros…

Legenda: PN - Paulo Noval
RS - Rogério Sousa
PP - Pedro Pereira

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