A hipocrisia é uma ferramenta indispensável à sã convivência entre seres humanos e, se olharmos com atenção, até entre alguns animais. Escuso de entrar por grandes explicações porque já todos dissemos coisas que não queríamos apenas para evitar dispêndio maior de energia num estapafúrdio conflito. Custa menos libertar um pouco mais de bílis no organismo (até faz bem) do que vomitar impropérios em cima de pessoas muitas vezes inocentes da má disposição por elas activadas. A hipocrisia dizia eu... Uma espécie de autocensura que nos impede de ser frontais e francos todo o tempo. Custa a aceitar, mas dá um jeito do caraças.
Mas há alturas em que a autocensura começa a ser perigosa. Quando censuramos comportamentos, opiniões, ideias, só porque sabemos que contraria determinada pessoa ou entidade. Actos menores, como o da hipocrisia, devem ser utilizados com moderação porque se não transformamo-nos em figuras de cera. Piso gelo fino quando misturo hipocrisia e auto-censura, mas faço-o não para os usar como sinónimos, mas para lhes extrair um ponto comum: o fingimento. Encontro fingidores de pensamento que de tanto defenderem as causas de uma sociedade progressista, esquecem o verdadeiro sentido da liberdade e do orgulho individual, vendendo por um ufano slogan a sua dignidade intelectual.
A globalização tem coisas más. E uma delas é a pusilânime consciência moralista global, composta por pessoas que não se respeitam a si próprias e fingem que respeitam mais o mundo e a humanidade do que o resto da escumalha. Censuram os pensamentos diferentes que têm, não vá alguém perceber o cérebro em causa, e fingem concordar com o que abominam, num movimento de auto-preservação tão complexo como dispensável.
1.08.2010
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