Giordanno e Giuliana sairam à mesma hora de sempre. A rotina é facilmente suportável, combinada com uma vida social bastante activa. Os objectivos e os sonhos permitem-lhes um relacionamento saudável, já que ter cadeiras de três pernas não faz parte dos planos de nenhum deles. Os filhos dão problemas, talvez mais do que a maioria da normalidade circundante. Nada que os incomode de sobremaneira. Com o tempo tudo melhorará. G e G não amadureceram no tempo e quantidade certa, e isso implica falhas na educação da prole. Claro que toda a gente falha em alguma coisa em qualquer tipo de situação. Define-se este pormenor para que se perceba que não se trata de uma família modelo, até porque não as há. Nem a do Eduardo Sá.
- Quem me leva à escola hoje?
- O inspector Varatojo! Eh!Eh!
- Vá lá! Quem?
- Já te disse. Come antes que apodreça.
- Vais ver a minha peça?
- Vou. Mas não te esqueças de no fim, pegar fogo ao palco.
- Ih!Ih!Ih! 'Tá bem. Ih!
G aparece franzindo o sobrolho
- Aqueles lá do extremo Sur-Sudoeste não andam a fazê-la boa.
- Então?
- Quem são esses?
- Depois lês o artigo. Vais levá-lo à escola?
- sim, depois não posso levar os outros. Hoje vou picar bois a abrir!
- O.k. Vou falar com os meus pais.
A noite chega depois de um dia cheio. Os livros, os jornais, os cheiro das especiarias, os jogos e as conversas dispersas enchem a casa. A saída em família, tão nauseabunda para muitos, e tão saudável para eles, é mais um pouco de cimento que ajuda a solidificar o relacionamento sempre tão frágil e difícil de manter numa sociedade humana. O individualismo é um valor sempre preservado, mas com a adultícia se saberá dar-lhe o devido valor, e usufruir nas quantidades certas.
Dia 3 desde que se começou a história. O mundo em alvoroço, e invasões militares em vários países do globo com o intuito de impôr uma nova ordem mundial assoberbada pelo ódio às sociedades mais livres. Apanhados de surpresa, vários países são presas fáceis. Aqui, a rua está em guerra. Giordanno levanta-se sobressaltado com os primeiros tiros. A televisão explica. O seu olhar cruza o de G, e torna-se lancinante. Um sorriso/esgar toma conta da sua face. Corre a buscar a sua arma religiosamente guardada. Dá instruções. Giuliana está assustada com este sorriso no meio de avassalador perigo, mas não se surprende. Equilibrando-se por dentro e já pronta a fazer o necessário para se proteger e às crianças, ouve...
- Sei o que fazer. Ficas aqui com os putos, enquanto procuro saber qual o abrigo para onde ir. O nosso exército ainda controla estas ruas. Vou juntar-me a uma milícia. -De novo o esgar. Giordanno sai de casa com ele, e era o pé direito que tinha no passeio quando uma bala lhe estoirou o crânio.
5.12.2007
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3 comentários:
Epa, desta é que eu não estava nada à espera! Começa por ser uma bela história familiar, que reproduz os valores da sociedade actual e as necessidades de uma família em desenvolvimento, para passar a envolver um homicídio, um tanto ou quanto crú, sem grandes floreados que nos protejam da agressividade do estoiramento craneal. Fiquei pensativa... Que puta de vida mais imprevisível!
É a guerra...
Mas quem é que mandou o Giordanno juntar-se à milícia, hum?!??!
E que raio de nome é Giordanno? Hum?!
E porque é que a família não foi toda procurar um abrigo com o Giordanno, hum, hum?
Não podes fazer um fim alternativo, para os leitores votarem, tipo "Você decide!"?
;-)
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