11.30.2009

Sorte + Mundo =

Quem trabalha na área da intervenção social apercebe-se, a dada altura, da inexorabilidade caótica que define a vida. Sem desprezar a possibilidade do sopro divino que provavelmente nos guia, não podemos cegar-nos à realidade circundante e compreender a sorte que temos em fazer parte do Universo. Desde a sopa primitiva até agora, são infinitos os momentos que possibilitaram a humanidade e cada um dos indivíduos que habitam o planeta. Cada cometa, nebulosa, estrela, mamífero, pó, réptil, amiba, sentimento, movimento, tudo… Tudo faz parte de um carrossel anárquico que tentamos, muitas vezes sem resultado, enfeixar nos nossos constructos positivistas.
Pois eu também tenho tido muitas sortes na vida. Entre elas a sorte de ter decidido estudar psicologia. Em Lisboa. No Campo Grande. Na Lusófona. Numa das turmas da tarde. Só assim conheci a Carlita. Só assim conheci a moça de quem só me consegui aproximar (no 3º ano) depois de providenciais estágios que me impediram de levar a merecida banhada ao fim de umas quantas tentativas… Não dizer as baboseiras erradas, aproximar-me nas alturas certas, escolher o vinho errado com o efeito certo, oferecer as flores mais bonitas, partilhar as músicas essenciais, rir de filmes improváveis… Todos estes golpes de sorte levaram a que a Carlita dissesse que sim ao meu pedido de casamento. No dia 12 de Dezembro, tudo indica, será outro dia de sorte. Espero que mais sortudo do que este em que tentei desajeitadamente explicar como o amor é um filho feliz do acaso, que merece ser festejado de forma ribombante como vamos fazer no dia 12.

11.26.2009

Tanta muleta para tão pouco coxo

É impressão minha ou o "agora" é o novo "isto é assim"? Do mal o menos, não fere tanto a bigorna.

Uma das piores raças: enochatos

"É uma das piores raças: os enochatos. O vinho e a sua temperatura, o copo ideal, a colheita, a cortiça, ah bebi um assim em Valladollid quando ia a caminho de Bilbau (ia visitar o Guggenheim), os jantares de degustação, o Can Fabes (ah, mas eles odeiam Santi Santimaría, tão plebeu) e Ferran Adrià (ah, a tortilla com espuma de batata em vez de batata, que descoberta do caralho, uma espécie de Nestum de batata mas sem açúcar), aroma de aroma de amora, taninos fortes, um vinho único com explosões de carqueja e final de boca de abacaxi, uma gota extenuante, este para a entrada, aquele para primi piatti, o outro para secondi, por aí fora, palatos que debicam agnolotti ricotta e spinaci decorati con ravanelli ou as pataniscas de bacalhau aromatizadas com caril de Madras (de Madras!), ou ainda o finíssimo coulis de tomate fresco com manjericão e arroz Basmati com gambas, bom para um vinho confitado em azeite de ginja com molho de amêijoa. "

11.20.2009

Amizades longas

Há amizades que não sendo de presença obrigatória, se mantêm com piscar de olhos nos interstícios do tempo. Sabrina Audrey Malbran emprestou-me um dos poucos álbuns com que me arrepiei quando o ouvi: Alice in Chains Unplugged. Um dia também tocámos piano a quatro mãos, mas já não me lembro da peça. Este é o blog dela.

Um

Um pouco precipitado. Atarefado com a MTV, ainda não pescou o Them Crooked Vultures.

11.19.2009

Dar hipóteses

Um gajo como eu ouve os Dead Combo, Linda Martini, Legendary Tiger Man e às vezes dá uma hipótese àqueles atravessados do Indigente onde em 150 bandas se aproveitam duas, mas todos os que lá vão falam como se fossem o próximo Mick Jagger. O que me divirto a ouvir aquilo... Uma vez havia uma banda à qual eu não achava grande piada, ou melhor, não achava piada nenhuma mas que iam ser um sucesso internacional mais ao nível europeu. Eram os Turbojunkie. Paz à sua alma. A única banda a sério que saiu dali são os Ithaka e era só um gajo que claro, era americano.

Mas bom, oiço aqueles que disse ali em cima e gosto e tudo, mas depois vem um álbum como este dos Them Crooked Vultures e a pequenez roqueira nacional regressa à toca habitual.

Conto apenas com o novo álbum do Samuel para me devolver o optimismo. Quando sai isso?

Um triálogo de Junho

11.09.2009

Grandes filhos da puta

"Porém, a realidade das últimas duas décadas, não só na Alemanha de Leste, mas também na generalidade dos antigos países socialista do Centro e Leste Europeu, já para não falar da URSS, não testemunha qualquer progresso, por mínimo que seja, para o povo, mas antes um tremendo retrocesso económico "

Engraçado

Agora que o muro está morto e enterrado, começam a espreitar os primeiros zombies do bloco de leste. Que até havia coisas boas nos países sob o jugo comunista. Que há muitos, de lá e tudo, a dizerem que não se vivia assim tão mal. Outros acenam que sim e querem saber dessas vantagens tão benéficas a uma decrépita sociedade capitalista como a nossa. Depois da revolta visceral inicial, acalmo. Já oiço a mesma conversa, só que acerca do Estado Novo e da Alemanha 0% de desempregados do tio Hitler, há algum tempo. Só que os que falam bem dos tempos fascistas são lunáticos intolerantes, fascistas tiranos. Os que esmiuçam as qualidades escondidas dos regimes comunistas são bem pensantes vanguardistas, soldados altruístas pertencentes a uma elite auto-legitimada.

11.08.2009

Liberal à moda antiga

"Temos pouca cultura liberal entre nós. Liberal à moda antiga. Liberal, de liberdades, de autonomia, de independência e de individualismo. Queremos que a nossa opinião seja logo adoptada como a opinião; ou que a opinião dominante seja tão dominante que nem se dê ao trabalho de ir a debate. Temos medo de ficar do lado da opinião minoritária, do outro lado do poder – de onde vêm benefícios e vantagens. Tememos quem manda. O único horizonte de salvação é o Estado – para funcionários, para necessitados, mas também para empresários, que suplicam favores e facilidades. Por isso, o Estado tem sempre razão em nomes de todos nós («O Estado somos nós.»). Temos medo da palavra indivíduo – a maioria acha que o indivíduo (um luxo suspeito) não vale nada e que deve sujeitar-se ao colectivo, sacrificar-se em nome de todos. A nossa desgraça é precisamente essa."

Francisco José Viegas, que me ensinou, com Jaime Ramos, os Ramón Allones.

11.07.2009

Duas rápidas

Entramos num ginásio e um suposto responsável pergunta-nos se estamos lá para obter hipertrofia muscular. É o mesmo que ir ao hospital e um médico perguntar se estamos lá para arranjar um cancro.

Sabemos que estamos num balneário de nível quando alguém diz: "tens aí desodorizante para a malta?"

11.06.2009

11.05.2009

Minudências

Outra coisa ligada à que descrevo aí em baixo, é a da ignorância. Sim, assumir ignorância é das coisas mais difíceis para alguns tipos. E é hilariante ver certas caras comidas pelo pânico de não conhecerem certa banda, aquele livro ou determinado filme. E aqui subjaz a tal ligação ao medo de aceitar uma sugestão/empréstimo. Num movimento de cariz paranóide, o triste pensa "se eu aceitar esta sugestão estou a assumir que preciso de sugestões. Não! Nunca!" Para estes tipos assumir ignorância em qualquer assunto, por muito prosaico que seja, é como espetar-lhes uma faca no coração e rodá-la. A dor de não saber tudo e de estar só e indefeso face a um mundo onde há desconhecido e pessoas prontas a assinalá-lo, é lancinante. Eu também já tive dificuldade em admitir que não conhecia algumas coisas, mas depois fiz catorze anos e isso passou...

11.04.2009

Minúcias

Eu não sou de ceder ou emprestar muito. Cioso e talvez mete-nojo das minhas coisas, só gosto de emprestar a quem está dentro do círculo. Até já me aconteceu uma coisa deveras inusitada. Pessoas, que intimidadas por sabe-se lá o quê, recusaram empréstimos ou ofertas de música ou filmes. O que é isto? E o que me divirto a pensar nessas cenas.

Agradeçamos

Ainda não tinha agradecido convenientemente à Sic Radical por ter comprado a nova cena do Conan O'Brien. É que aquele Jimmy Fallon... Não, não, não pá.